Estudos recentes sugerem que a variação da distribuição anatômica da gordura corporal é importante indicador morfológico relacionado com complicações endócrinas e metabólicas predisponentes ao aparecimento e desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Indivíduos com essa disposição centrípeta da gordura corporal tendem a apresentar maior incidência de diabetes , hipertensão e alterações desfavoráveis no perfil das lipoproteínas plasmáticas.
A monitorização da quantidade de gordura corporal e da prática da atividade física tem recebido grande notoriedade em aspectos relacionados à promoção da saúde, não apenas por suas ações isoladas na prevenção e no controle das doenças cardiovasculares, mas também, por induzirem alterações desejáveis em outros fatores de risco, sobretudo, nos níveis de lipídios plasmáticos e de pressão arterial (PA).
Diante desta perspectiva, a magnitude da relação entre maior acúmulo de gordura na região central do corpo e níveis de lipídios sangüíneos e de PA pode sofrer variações em função da quantidade de gordura corporal e do impacto da prática de atividade física. Na tentativa de contribuir para a elucidação do problema, o estudo procura analisar associações entre índices de distribuição anatômica da gordura corporal e níveis séricos de lipídios/lipoproteínas e de PA, mediante controle de indicadores voltados à quantidade de gordura corporal e à prática da atividade física.
Lipídios
Embora ainda existam controvérsias, a redução de lipídios para no máximo 30% do valor calórico total já resulta em benefícios no controle dos FR das DCV. Numa metanálise realizada por Yu-Poth et al sobre 37 estudos de intervenção dietética (entre 1981 e 1997), verificou-se que as dietas prescritas pelo National Cholesterol Education Program (NCEP) tiveram importantes efeitos benéficos nos FR das DCV. As últimas recomendações da American Heart Association em relação aos lipídios para indivíduos com DCV preexistentes são: consumo de 25% a 35% de lipídios, com < 7% saturados, até 10% poliinsaturados e < 200mg de colesterol por dia. No entanto, a recomendação para a população em geral é de < 30% de gorduras, < 10% saturadas, até 10% poliinsaturadas e < 300mg de colesterol por dia. Embora o excesso de lipídios seja prejudicial, observou-se no Seven Country Study que os povos mediterrâneos, com quase 40% de ingestão de gorduras, provenientes na sua maior parte do azeite, apresentavam menor prevalência de DCV do que os de outros países como EUA e Holanda, cujo consumo era similar, mas proveniente das gorduras animais. Os lipídios que mais contribuem para o aumento da LDL-c são os ácidos graxos saturados, os ácidos graxos transisômeros, e, em menor extensão, o colesterol dietético.
As castanhas, amêndoas, avelãs, pistácios, nozes, talvez por seu alto teor de gordura, não são freqüentes na dieta ocidental. Diversos estudos vêm indicando que seu consumo freqüente está associado a risco reduzido de doenças coronarianas. Ainda que 73 a 95% de suas calorias sejam provenientes dos lipídios, eles são pobres em gorduras saturadas, sendo 60% das calorias compostas por ácidos graxos monoinsaturados, o que auxilia a redução do colesterol total e da LDL-c, sem, no entanto, reduzir a HDL-c. Sabaté et al. mostraram num estudo clínico que a adição de uma quantidade moderada de nozes, numa dieta com teor reduzido de gordura e manutenção das calorias, poderia modificar favoravelmente o perfil lipídico de homens saudáveis. No entanto, Kris-Etherton et al. observaram que a redução de colesterol sérico promovida pelas dietas-teste que incluíram castanhas era maior do que a prevista pelas equações, sugerindo com isso que, possivelmente, existem compostos não lipídicos possivelmente benéficos no controle do colesterol.
lesão oxidativa dos lipídios nas paredes dos vasos sanguíneos parece ser um fator decisivo no desenvolvimento da aterosclerose, já que a oxidação da LDL-c a transforma numa partícula reativa potencialmente letal para as artérias. Populações com dietas ricas em substâncias antioxidantes apresentam baixa incidência de aterosclerose coronária, já que os antioxidantes aumentam a resistência da LDL-c à oxidação e vêm sendo associados com a redução de risco para coronariopatias. Acredita-se que os antioxidantes são os principais responsáveis pelos efeitos benéficos do consumo diário das frutas e verduras. Os principais antioxidantes são a vitamina E, pigmentos carotenóides, a vitamina C, flavonóides e outros compostos fenólicos.
A substituição das proteínas animais pelas vegetais vem sendo correlacionada com redução no risco de coronariopatias, implicando diminuição natural no consumo de gorduras saturadas. Dentre as proteínas vegetais, a da soja vem sendo a mais estudada e alguns resultados apontam seu efeito redutor do colesterol, especialmente em indivíduos hipercolesterolêmicos. Na proteína de soja, as isoflavonas são as substâncias que vêm atraindo maior atenção dos cientistas, por seus efeitos benéficos nos lipídios séricos, assim como por seus efeitos estrogênicos. Acredita-se, ainda, que o efeito redutor dos lipídios séricos já citado talvez esteja relacionado a essa ação estrogênica, visto que estudos com animais indicaram que, na remoção dos estrogênios da proteína de soja, a redução de lipídios séricos era minimizada. Num estudo clínico realizado com mulheres normocolesterolêmicas antes da menopausa, o consumo de proteína isolada de soja melhorou o perfil lipídico destas. No entanto, ainda que os benefícios das isoflavonas venham se confirmando cada vez mais, sua suplementação isolada é ainda controversa, já que a soja apresenta outros componentes, como a fibra alimentar e a proteína vegetal, que possuem efeito hipocolesterolêmico e, portanto, protetor nas DCV.
Os lipídios musculares cada vez mais têm recebido atenção devido seu papel como fonte de energia e o conhecimento de seu metabolismo levou à descrição de doenças decorrentes de defeitos na sua utilização. Em geral, essas patologias apresentam relação entre miopatia e alteração no metabolismo lipídico. A deficiência enzimática proporciona alteração metabólica em que há limitação na utilização de lipídios como fonte de energia pela célula. Expressão clínica mais importante desta deficiência são episódios recorrentes de rabdomiólise com mioglobinúria, precipitados principalmente por exercício extenuante. Entre outras causas que podem desencadear a lise muscular estão a exposição ao frio, privação de sono, jejum prolongado, anestesia e infecções.
O objetivo deste estudo é relatar o caso de um paciente com deficiência enzimática relacionada ao metabolismo de lipídio diante de situação de alta demanda metabólica, e alertar para um grupo de patologias em que o alto índice de suspeição e tratamento precoce fazem diferença no prognóstico.
Hipertensão Arterial
O aumento da resistência no interior dos vasos periféricos acaba, ao longo do tempo, por sobrecarregar o coração, rins e cérebro. No coração, os pacientes hipertensos não-controlados correm o triplo do risco de desenvolverem isquemia miocárdica (angina ou infarto) e sete vezes mais chances de apresentarem um derrame cerebral - dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia. O aumento da resistência nos vasos acaba ao longo do tempo por sobrecarregar o coração, levando à sua hipertrofia e aumento.
Outros problemas decorrentes da hipertensão relacionam-se com a presença de aneurismas (dilatações) nas grandes artérias, principalmente na aorta.
A maioria das DCV encontradas no adulto estão basicamente relacionadas com a aterosclerose. Nesta doença, ocorre um acúmulo de gorduras nas artérias, que vão se obstruindo progressivamente, com maior ou menor velocidade. Menos sangue passa por estas artérias ocluídas. O processo se inicia ainda na infância, e já foi detectado até mesmo em bebês. Mas na maioria dos casos as suas conseqüências irão se manifestar após os 40-50 anos, através do surgimento de doenças coronarianas, derrames cerebrais, hipertensão, e doença arterial obstrutiva dos membros.
Alguns fatores são capazes de alterar a parede interna das artérias, levando a uma espécie de "inflamação" no local - estes fatores interagem com as gorduras circulantes no sangue (favorecendo a deposição nas "placas" e com células do sangue), aumentando a sua aderência. Outros fatores acabam por aumentar a viscosidade do sangue, que fica mais "grosso". Por exemplo, o excesso de gorduras no sangue e o tabagismo favorecem a deposição das placas, além de poderem alterar a viscosidade do sangue.
No caso das doenças em que há elevação das gorduras no sangue, a aterosclerose acontece quando os níveis de colesterol sanguíneo superam a capacidade do organismo de retirar colesterol da circulação, o que faz com que as gorduras sejam depositadas na parede da artéria.
Diabetes
Compreende um grupo de enfermidades caracterizadas por níveis elevados de glicose no sangue (hiperglicemia). Os sintomas mais comuns são: secreção excessiva de urina (poliuria), sede (polidpsia) e fome (polifagia) intensas.
O diabetes pode ser classificado em o diabetes tipo 1, anteriormente denominado de diabetes mellitus dependente de insulina (IDDM), é mais frequente em crianças e adolescente, embora possa ocorrer em adultos. O diabetes tipo 1 é uma doença autoimune caracterizada pela destruição das células beta pancreáticas pelas células do sistema imune, e os pacientes necessitam de injeções de insulina exógena para sobreviver. O tipo mais comum é o diabetes tipo 2, está intimamente relacionado a obesidade e atinge principalmente pessoas com mais de 40 anos. Existem ainda o diabetes gestacional (diabetes durante a gravidez) e outra menos comum que é a Diabetes insípidus.
Dislipidemias
Dislipidemias são alterações da concentração de lipídeos no sangue. Os lipídeos são responsáveis por várias funções (produção e armazenamento de energia, absorção de vitaminas, etc.), mas o excesso está relacionado à aterosclerose. Este processo ocorre em vasos onde há instalação de lesões em forma de placas, causando obstrução ao fluxo sangüíneo.
As dislipidemias podem ocorrer às custas de:
- Aumento do colesterol (total + LDL): Hipercolesterolemia pura
- Aumento dos triglicérides: Hipertrigliceridemia pura
- Aumento de colesterol e triglicérides: Dislipidemia mista
- Redução de HDL
Esteatose hepática:
O acumulo de gordura no interior dos hepatócitos é um mecanismo natural, utilizado para estocar energia. A quantidade de energia acumulada na gordura é muito maior que no açúcar ou na proteína, podendo fornecer ao animal grande quantidade de energia nos momentos de necessidade. O fígado mantém dois grandes estoques de energia: a gordura e o glicogênio, que e uma glicose alterada para ser estocada. Quando permanecemos em jejum e o nível de açúcar no sangue diminui, hormônios enviam sinal ao fígado para transformar o glicogênio em glicose e manter o organismo funcionando. Se a falta de comida persistir, a gordura começa a ser utilizada, mas este processo é mais demorado. Alem disso, estudos sugerem que as células esteladas do fígado tentam controlar os níveis de colesterol no sangue transportando o colesterol para dentro do fígado. Os coelhos, por exemplo, que não tem células esteladas, sofrem muito mais com o colesterol.